AQUILO QUE NÃO DEVEMOS ESQUECER, NESTE FINAL DE ANO
Embora acreditasse que estivéssemos em período de extinção desta crise sanitária grave, transformada em crise económica, financeira e humanitária, o vírus covid19 vem-se mostrando bastante resiliente. Isto faz-me pensar que devemos aceitar em ter que conviver com ele, em estado latente, durante mais tempo, embora não seja plausível que nos resignemos. A experiência alerta que a pior emenda que nos pode acontecer seria a nossa resignação e deixarmo-nos dar por vencidos.
O nosso infortúnio não termina, por aí. As mudanças climáticas têm tido efeitos assoladores, provocando grandes devastações ecológicas, secas e fomes, em vastas zonas do Sahel africano. Voltaram aos nossos écrans as imagens trágicas de caras famélicas e de carcaças de animais mortos. Ainda, em zonas, outrora, bastante húmidas, houve sinais de penúria de água. As autoridades foram forçadas a racionar o seu consumo em vários centros urbanos e o próprio uso para a produção agrícola. Fica no ar a dúvida angustiante: estará em gestação uma crise hídrica mundial?
Em Novembro, realizou-se a COP-27, no Egipto. É a vigésima sétima vez que essas grandes assembleias se reúnem. Algumas ficaram célebres pela qualidade dos debates e das decisões tomadas, tais como o Protocolo de Quioto ou o Acordo de Paris. Sobre esta matéria das alterações climáticas, do aquecimento global, da desertificação e das secas, creio que tudo já foi dito. A pergunta que resta é saber o que está a faltar e quem está a falhar. Também, a resposta não é complicada: têm faltado a concretização das ações acordadas e os grandes decisores mundiais não têm cumprido.
Ainda, em relação ao amor e à proteção que devemos ao Planeta, quando vejo as imagens da exploração de minas descomunais para a exploração de minérios raros e as máquinas enormes e sofisticadas usadas para movimentar milhões de toneladas de terra, fica-me a impressão de que se esteja a desventrar a Terra. O meu desgosto é que todas estas ações e atitudes se me afiguram altamente depredadoras. Não há reposição, só há consumo e predação. Tem prevalecido a postura consumista e rentista. É uma área em que me parece urgente mudar de visão e de atitude e passar a respeitar, a economizar e a rentabilizar o uso dos recursos naturais.
Entretanto, neste fim de ano, o mundo continua envolto numa grande barafunda. Face a isso, a pergunta que me veio à mente foi: como libertar-se deste emaranhado de conflitos e devolver às pessoas a segurança, a tranquilidade e a confiança?
Parece-me que o caminho escolhido até agora não seja o mais adequado, porque, em vez de procurar reduzir as tensões e apaziguar as desconfianças e os medos recíprocos, as decisões e as medidas tomadas atiçam a ódio, aumentam o estado da divisão internacional e aprofundam as contradições e os conflitos, afastando as possibilidades de soluções negociadas. O mais grave, a meu ver, está nesta obstinação em querer, a todo custo, esmagar o adversário, humilhá-lo e pô-lo de joelhos. Impõe-se uma mudança de abordagem. Porquanto, o que está em causa não se resume aos interesses individuais ou de um grupo de países, por mais rico ou poderoso que seja. É a segurança coletiva, de todos, que está em causa!
Em resposta, almejo pelo Dia Mundial do Diálogo e das Responsabilidades Partilhadas!
Cordialmente, Pedro Pires
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